Nenhum voto em Engler e nenhuma esperança no projeto político de Fuad! A saída contra a extrema-direita está na auto-organização e mobilização dos setores oprimidos nas bases, territórios e nas ruas!

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Posionamento do Ecoar em Belo Horizonte sobre as eleições.


O resultado do 1ºturno das eleições municipais em Belo Horizonte demonstra para nós um avanço de projetos políticos da direita, de tons conservadores e reacionários, apontando , de um lado, para as limitações históricas da esquerda da ordem no que toca à sua política de conciliação com a classe dominante. Por outro lado, a infeliz incapacidade atual da esquerda radical, também nos coloca, enquanto ecossocialistas, diante dos desafios de construir uma alternativa política e revolucionária em nossa cidade.

As elites bilionárias de Belo Horizonte investiram fundo nessas eleições. Entre elas, encontram-se figuras como Rubens Menin, o maior bilionário da capital, dono de empresas como a MRV Engenharia – que chegou a ser denunciada na “lista suja do trabalho escravo”¹ -, fundador da CNN Brasil e do Banco Inter, além de proprietário da rádio Itatiaia. Se observamos as coisas como elas realmente são, Menin foi um grande financiador das campanhas de Fuad Noman e Bruno Engler. Isto significa que, no plano econômico, ambas as candidaturas respondem aos interesses de quem paga a banda.

Nesse segundo turno, entendemos que temos projetos alinhados com o conservadorismo, a retirada de direitos sociais, ataques às LGBTQIA+, negritudes, indígenas, à diversidade religiosa, às mulheres, e ao meio socioambiental. Além disso, reforçamos que ambos os candidatos estão ligados economicamente, por corresponderem aos anseios da grande burguesia belo horizontina, ilustrado pelo maior bilionário da cidade, este cuja empresa, repetimos, está interligada com denúncias de trabalho escravo.

Em um lado da disputa, temos Bruno Engler, representante direto e explícito do bolsonarismo, um negacionista climático e científico, que, obtendo mais de 55% de faltas nas reuniões do plenário em seu mandato, é nada mais que um parasita no poder público. É, também, aliado de figuras neofascistas, como o deputado federal Nikolas Ferreira. Engler defende um projeto de profunda perseguição aos movimentos sociais e às organizações de esquerda. Além disso, abertamente privilegia as privatizações e alianças com os grandes milionários de Belo Horizonte. Sua vice, coronel Cláudia, simboliza   a defesa por  uma guarda municipal cada vez mais militarizada e repressora na cidade.

Por sua vez, Fuad, que é o atual prefeito da cidade, teve uma gestão desastrosa para com as necessidades da classe trabalhadora e dos setores oprimidos em Belo Horizonte. Sua gestão é conhecida por grandes ataques ao meio ambiente. Não a toa seu apelido é “prefeito motosserra”, em decorrência das suas ações antiambientais, sendo o  responsável pelo desmatamento de dezenas de árvores para a realização de um evento bilionário no entorno da UFMG e do Mineirão o Stockcar. Evento este feito a contragosto de grande parcela da população belohorizontina, e com impactos expressivos registrados no ambiente educacional do campus da UFMG Pampulha, como o fechamento temporário do hospital veterinário universitário e a paralisação de pesquisas, além de afetar os animais que vivem na região. É também conhecido por reprimir duramente os trabalhadores da educação municipal, atacar as populações LGBTQIA+ – ao sancionar a lei 400/2022 que proíbe o uso de banheiro por pessoas trans em espaços – instituições, escolas confessionais, eventos – mantidos por templos religiosos-, e por dar cabo a um projeto higienista e de gentrificação da cidade com a chamada de  “repovoar o centro”. 

Não nos esquecemos também do histórico de Fuad. Em um dos períodos mais obscuros da nossa história recente, ele atuou em um dos batalhões de exércitomais responsável por torturar e matar pessoas  durante a ditadura empresarial-militar . Ainda hoje, Fuad defende que a ditadura foi uma revolução no Brasil, evidenciando as contradições de uma realidade brasileira na qual a justiça de transição foi profundamente negligenciada e ineficaz. Somado a isso, temos, na chapa de Fuad, Álvaro Damião, bolsonarista, conservador, defensor do Escola Sem Partido e de um modelo de segurança na cidade cada vez mais punitivista, defendendo medidas como a redução da maioridade penal.

Não podemos romantizar nem o que tem sido a gestão de Fuad na prefeitura de Belo Horizonte e nem o que a sua figura representa nessas eleições. Essa tentativa de garantir sua reeleição ao custo de reescrever nossa história recente é um desrespeito às lutas sociais e coletivas da nossa cidade. Nós defendemos que nenhum dos dois projetos representam uma política de avanços nas condições de vida da classe trabalhadora e dos setores oprimidos, ainda que reconheçamos que existam diferenças entre esses projetos.  Os setores da esquerda  que  escolhem falsificar a história da gestão do atual prefeito e a contrição de sua candidatura, ocultando suas contradições, suas medidas antipopulares, e  fazem um desserviço no avanço da consciência de classe.

Sabemos que Fuad não é uma figura que representa a defesa da democracia que queremos e nem os direitos sociais. Precisamos reconhecer que a esquerda nos últimos anos vem despolitizando os processos eleitorais, sempre canalizando a energia das pessoas para votos em programas rebaixados, projetos sem horizontes estratégicos de transformação social e incapazes de dialogar com nossos sonhos e utopias. Para nós, isso não é o suficiente e por isso entendemos que nossa mobilização precisa transcender o que está colocado nas urnas.

Para alguns setores da sociedade, o voto nulo pode representar uma forma de protesto contra projetos que não representam as necessidades concretas das pessoas. Nós não invalidamos o voto nulo. Mas também reconhecemos a necessidade de construção de soluções políticas para além do voto, que disputam as consciências e confiram maior protagonismo e pertencimento às pessoas na política por meio da organização coletiva.

Para isso queremos fazer um chamado, acima de tudo, para que a população não se conforme com o que os bilionários da cidade nos apresentam como únicas possibilidades viáveis por meio de campanhas milionárias. Não é esse modelo de eleições, democracia e representatividade que nos representa. Por isso, defendemos nenhum voto em Engler, mas também não depositamos nenhuma confiança ou esperança no projeto político representado por Fuad. A saída contra a extrema-direita só pode ser construída por meio da auto-organização e mobilização da classe trabalhadora e dos setores oprimidos por meio de suas bases: escolas,  universidades, locais de trabalho, conselhos populares, espaços de fé, associações de bairro, sindicatos, partidos políticos, coletivos de juventude, cooperativas, movimentos sociais, nos seus territórios e nas ruas!

¹ Disponível em: https://reporterbrasil.org.br/2022/10/apos-7-flagrantes-mrv-e-beneficiada-por-acordo-com-governo-e-fica-fora-da-lista-suja-do-trabalho-escravo/. Acesso em: 24/10/2024.

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