A juventude negra quer viver em liberdade, isso exige radicalidade!

Setorial de negritude / Coletivo Ecoar

A juventude é diversa, plural e heterogênea, mas num sistema que se nutre da exploração e da opressão, essa nossa diversidade se manifesta como desigualdade. No Brasil e no mundo, o direito de viver em liberdade é negado para a juventude negra, que carrega as marcas do racismo e resiste contra as estruturas sociais que a violenta todos os dias em todas as esferas da vida social.

Sabemos que numa sociedade dividida em classes, o racismo é estrutural e estruturante e as suas manifestações são marcas fundantes da realidade brasileira, que teve sua classe trabalhadora essencialmente marcada pelo trabalho escravo. Às custas do sangue negro, os donos de tudo, aqueles que detém todo o poder, avançaram na exploração do povo negro com o objetivo de criar condições para que fosse acumulado capital suficiente para que emergisse o sistema capitalista. Tudo isso sustentado pelo sequestro de povos africanos e com séculos de massacre da negritude.

Nos dias atuais vivemos os efeitos de uma “falsa abolição”, uma vez que esse processo não garantiu qualquer reparação histórica para o povo negro. O que se pode ver são atualizações do racismo, que, com seu caráter estruturante, escancara marcas profundas dessa desigualdade nas entranhas das relações sociais. Em contrapartida às narrativas do “mito da democracia racial”, o Brasil, país com a maior população negra do mundo fora do continente africano, tem sua história também marcada por políticas de embranquecimento da sua população.

O cenário de extermínio do povo negro no Brasil nunca se encerrou. Destinam para negritude as piores condições de trabalho, habitação, saúde, educação, assistência e lazer. São as pessoas negras que sofrem o maior impacto da crise socioambiental e foram o principal grupo de risco social vítima da pandemia de COVID-19. São os corpos negros que protagonizam os índices das prisões e manicômios, instituições de controle dos corpos e mentes desse sistema de moer gente. A cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil e esse é o retrato de um genocídio racista em curso, que sufoca até a morte e que se manifesta da criminazalização do rap e do funk às balas da polícia. 

É por isso que gritamos: por uma sociedade antiproibicionista, sem prisões e sem manicômios! Marielle perguntou e nós continuaremos a perguntar: “quantos mais têm que morrer para essa guerra acabar?”. Basta de guerra aos pobres e ao povo negro!

Queremos o fim da exploração e da opressão e isso passa por destruir essa estrutura racista. Sendo assim, não hesitaremos em nomear o sistema contra o qual lutamos: capitalismo. Queremos a emancipação plena da negritude e isso exige radicalidade, organização e intransigência na luta contra nossa opressão.

Para isso, temos muito que aprender com a história da luta de classes travada pela população negra. Nós não nos enganamos com as falsas narrativas que remontam uma história de passividade do povo negro frente à dominação. No mundo e no Brasil, de norte a sul, a nossa história é preenchida por revoltas, rebeliões e resistências negras. Jamais esqueceremos a resistência do Quilombo dos Palmares, a Revolta dos Malês, a Balaiada e a Revolta da Chibata. Também nos é inspiração o Partido dos Panteras Negras e na Revolução Haitiana.

São passos que vêm de longe e devem servir de inspiração para contra-atacar frente às atualizações do velho racismo. É por isso que reivindicamos a centralidade da luta antirracista permanente e sólida para a construção de uma nova sociedade. Para derrotar o projeto racista que nos impõem, defendemos a luta por uma democracia radical: a democracia ecossocialista. Defendemos um antirracismo que seja por todas as pessoas exploradas e oprimidas. Lutaremos pelas demandas dos movimentos da classe trabalhadora, feministas e LGBTQI+ do mundo. Nos colocamos na luta para romper as estruturas, tendo a juventude como um motor fundamental dessa luta e o fortalecimento das mobilizações sociais com radicalidade como única via possível dessa transformação.

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