Militar é sobre o tempo: reflexões sobre o ser militante

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Na foto, se veem alguns militantes do Ecoar reunidos ao ar livre.

Um militante é alguém que entrega parte de seu tempo para intervir na sociedade. A entrega desse tempo parte da compreensão de que a sociedade vale a pena, portanto, a coisa mais valiosa que temos, o tempo, pode ser dada em nome dela.

Isso significa se tornar parte de um projeto. Um projeto eminentemente coletivo. Esse pode ser um projeto de transformação ou de continuidade. Muitos entregam o seu tempo em nome do fato de que a sociedade deve continuar como está. Esses tendem a ser os mais poderosos. Ligados, direta ou indiretamente, ao grupo que só existe porque expropria o tempo de todos nós, a burguesia; possuem todos os recursos para que o mundo fique assim.

Nós, por outro lado, fazemos parte de um projeto de transformação. Nós, a juventude da classe trabalhadora, que já temos nosso tempo de vida sugado pela burguesia, ainda decidimos entregar parte dele em nome da missão mais difícil de todas. A de mudar. Porque esse mundo, dessa forma, não dá. Tem que mudar. Precisa mudar. É urgente que mude.

Justamente por essa dificuldade, não é possível ser militante sozinho. É sufocante. É uma jornada coletiva em que a nossa luta nos une e segue existindo com o apoio de cada um. É estar junto, em tarefas, nas manifestações, na construção orgânica dos movimentos sociais, sabendo que podemos contar uns com os outros. É saber que quando eu não faço, outro fará. É saber que quando eu faço, faço por todos. É a negação de si em nome da verdadeira exaltação do eu: o eu coletivo, que é maior, aquele que pode mudar o mundo.

Daí o papel da organização política. Longe de ser supressão da própria identidade, a organização é a ferramenta que possibilita que canalizemos o que há de melhor em cada uma de nossas individualidades em torno de nossa missão comum. Se tantos sonham eu mesmo sonho, se tantos sofrem o mesmo penar, por que não fazer isso juntos? Ser militante é estar organizado. É ultrapassar os limites de si mesmo.

Ser militante também é saber se criticar. Se o indivíduo não é a unidade de todas as coisas, é nas relações que crescemos e nos desenvolvemos. É analisar o que passou e saber que não temos as respostas pra tudo, e saber ouvir. É refletir, é encontrar sínteses e também se corrigir e saber se desculpar quando for preciso.

Também é estudar. Ler o que já foi escrito, descobrir nas páginas de companheiras e companheiros que vieram antes e aprender com as suas lições. É criar conexões, e entender como as coisas se transformam e também como elas permanecem iguais. É saber que a história da nossa luta é maior do que a gente: é longa, rica e presente sempre. Ou seja, o passado importa, mas não como uma exaltação bucólica estéril. O passado não é um quadro barroco emoldurado em uma sala de estar. O passado é uma onda, viva, que sintetizamos com o presente em nome de um novo futuro. É saber persistir as derrotas com a cabeça erguida. Recusando os fatalismos, sabendo que um outro dia virá. É saber que estaremos nas ruas, haja frio, calor ou sol.

Também é amar. Nosso manifesto atesta, e aqui reforçamos: o socialismo é sobre amor à humanidade. Amor à capacidade de sermos. É amar tanto que não se pode suportar as amarras que prendem os nossos. É se pôr à disposição à luta, por mais dura que seja, porque a alternativa é impensável.

Militar é sobre o tempo. O nosso tempo, às vezes pouco, às vezes mais do que podemos; entregue, fundido, reconstruído. O tempo que nos atravessa e nos supera. O tempo que urge, temente à catástrofe, e o tempo que dá esperança, que sabemos que vai chegar, e que vamos construir para que chegue.
E é isso que fizemos no Ecoar, por um ano. Militamos. E é o que seguiremos fazendo.

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