Um ano ecoando vozes, sonhos e lutas: sobre os nossos primeiros passos

  • por
Imagem retangular em formato paisagem. Na foto, que é colorida, se veem sete militantes. Os cinco da esquerda seguram uma bandeira verde com a logo do coletivo Ecoar. A militante mais à direita segura uma bicicleta. Todos estão abaixados na grama. Ao fundo, se veem duas lagoas e diversas capivaras.

O coletivo Ecoar ⎼ juventude ecossocialista está completando o seu primeiro ano de existência! Em um dos momentos mais dramáticos da história do país, demos o nosso primeiro passo: o primeiro de muitos que ainda estão por vir. Nossa trajetória, daqui em diante, será sempre marcada por isso.

A fundação do coletivo Ecoar se deu sob o governo de extrema-direita, corrupto e genocida de Bolsonaro, em uma conjuntura de crise econômica, social, política e ecológica, que foi agravada pela pandemia da covid-19. No momento em que foi finalizada nossa carta-programa, o Brasil “ainda” estava na casa das 100 mil mortes ⎼ o que, por si só, já era uma tragédia sem precedentes na nossa história. Não poderíamos imaginar que a esta altura, em dezembro de 2021, este número teria se multiplicado em 6 vezes, chegando a mais de 600 mil mortes. Não são números, são vidas! Jamais esqueceremos, nem perdoaremos.

Por ter sido criado em meio a esse cenário pandêmico, o coletivo Ecoar teve sua existência inicial marcada sobretudo pela dinâmica das relações virtuais. Isso nos impôs uma série de desafios para a estruturação e articulação de um coletivo novo, que teve de nascer se adaptando aos novos modos de construção e de luta da juventude brasileira.

Apesar das limitações, foi possível levar o nosso projeto para diversos cantos do Brasil, apresentando nossas visões e posições para jovens inconformados com a nossa realidade, interessados em ideias anticapitalistas e dispostos a se engajar coletivamente em um projeto de transformação social radical.

Este esforço de integração de novos militantes às nossas fileiras foi acompanhado por um esforço interno (e permanente!) de formação militante. Uma formação que valoriza a teoria marxista, mas sobretudo compreendendo o marxismo como uma filosofia da práxis: uma nova visão de mundo que entende a necessidade de articular, de maneira íntima e orgânica, teoria e prática. Um marxismo que é aberto, crítico e autocrítico.

Nosso objetivo central tem sido preparar e educar a nossa militância para a luta. Para se engajar na construção democrática dos movimentos sociais e populares e assim contribuir com a auto-organização do conjunto dos explorados e oprimidos. Para que a nossa militância se desenvolva através de sua experiência prática de organização e luta, aprendendo a ser porta-voz de e levar adiante um projeto político que é e tem de ser coletivo. Isso implica participação ativa e construção democrática.

Deste ponto de vista, foi fundamental a nossa participação ⎼ ao lado de muitas outras organizações, coletivos e movimentos, que já estavam realizando ações de solidariedade de classe ⎼ nas lutas que se desencadearam em maio de 2020 por conta da chacina na favela do Jacarezinho. Estas lutas revelaram, ao mesmo tempo, a barbárie cotidiana e a centralidade da luta antirracista no nosso país, historicamente imbricada com a questão de classe. Foi um grito de basta ao genocídio do povo pobre e preto, assim como ao seu encarceramento em massa. Nem de bala, nem de fome, nem de covid: queremos o nosso povo vivo!

Toda esta mobilização se ampliou e foi canalizada para a luta pela derrubada do governo. Diversas manifestações foram realizadas onde centenas de milhares de vozes entoavam, de norte a sul do país: Fora Bolsonaro! Genocida! Nós estivemos presentes em todas estas manifestações, por entender a centralidade da luta e apostar na força da mobilização popular. Só a luta de massas pode alterar verdadeiramente o rumo da história e enfrentar a barbárie em curso, colocando em xeque a dominação existente. Lutar, ecoar, o poder popular!

Defendemos em meio a este processo a necessidade da frente única e da radicalização nas lutas. Uma radicalização que passa por fortalecer e ampliar a mobilização unitária, por massificar as lutas que, por maiores que tenham sido, não foram suficientemente grandes. Radicalizar também passa por ousar mais em nossas reivindicações e métodos de luta: uma greve geral teria (e ainda pode ter) o poder de abalar as estruturas, fazer as classes dominantes (e o governo) recuarem, assim como de abrir a possibilidade para que novas alternativas surjam. É nisso que apostamos, mesmo que o peso da burocratização e do eleitoralismo tenha prevalecido no interior da esquerda, desacelerando e desmontando as mobilizações, sobretudo por uma ilusão de que os nossos problemas podem esperar uma solução eleitoral mágica ao final de 2022.

Precisamos nos perguntar algumas questões elementares. Há alguma garantia de que haverá eleições em 2022? Se houver, estas serão feitas em “condições normais”? Podemos confiar na “derrota certa” de Bolsonaro? Mesmo que ele perca nas urnas, alguém acredita que ele sairá tranquilamente da presidência da república? Por acaso esquecemos que estamos lidando com um governo que reivindica a ditadura militar brasileira e que já ameaçou diversas vezes dar um golpe? Tão ou mais importante do que tudo isso: os nossos problemas podem ser resolvidos em uma simples eleição, ou demandam um enfrentamento radical e portanto uma perspectiva de ruptura com o capitalismo? Essas são questões fundamentais e incontornáveis para o futuro da classe trabalhadora brasileira e da juventude.

É urgente avançar um projeto ecossocialista e revolucionário, referenciado em uma perspectiva de luta de classes: uma luta de classes enriquecida e renovada pela diversidade de lutas contra todas as formas de opressão. Logo, uma luta de classes feminista, antirracista e antilgbtfóbica!

Para finalizar este breve texto, vamos concluir com alguns dos desafios e tarefas que nos aguardam no próximo período:

1) Seguir na luta! Só quem milita sabe as dificuldades de se engajar na luta coletiva e organizada. Isso não é algo simples, ainda mais em um mundo onde o capitalismo drena cotidianamente o nosso tempo e energia. Por isso contamos com muita solidariedade entre nós e nos apoiamos uns nos outros para seguir construindo uma ferramenta de luta para a juventude brasileira.

2) Trabalho de base! Nessa retomada e transição de volta ao “mundo presencial”, nosso coletivo deverá buscar os caminhos necessários para construir laços cada vez mais sólidos e orgânicos com os movimentos sociais e as lutas populares em todos os territórios. Isso é central. Só assim vamos avançar em nosso enraizamento em diversos setores sociais e frentes de luta.

3) Elaboração programática! Um programa nunca está acabado. Ele resume nossas visões e posições, mas está sempre aberto para ser enriquecido à luz de novas lições e experiências. É a nossa bússola coletiva para a luta política. Devemos trabalhar para seguir afinando nossa análise da realidade e desenvolvendo nosso projeto político.

4) Consciência, organização e luta! Devemos nos tornar cada vez mais capazes de contribuir para o avanço em termos de consciência, organização e luta da juventude e da classe trabalhadora. Isso implica que nós mesmos estejamos melhor formados, melhor organizados e engajados nas lutas reais.

5) Por uma política radical dos explorados e oprimidos! A política tradicional não nos representa. É o terreno da classe dominante e de seus serviçais. Nós construímos no cotidiano, a partir de nossos interesses e necessidades, uma política dos de baixo. Só uma política pautada nestes marcos pode ser capaz de reencantar a juventude. Tomar lado na história e se comprometer com a construção de um projeto estratégico de emancipação!

“Os sonhos são projetos pelos quais se luta. Sua realização não se verifica facilmente, sem obstáculos. Implica, pelo contrário, avanços, recuos, marchas, às vezes demoradas. Implica luta” (Paulo Freire, “Carta pedagógica: do direito e do dever de mudar o mundo”).

Pois, então, companheiras e companheiros: lutemos!

*Texto: Pedro Gava – Ecoar SP

icon quarta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *