129 mortes em Pernambuco: não foi desastre natural, foi racismo ambiental

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Imagem retangular em formato paisagem. A imagem é uma foto aérea, se veem algumas casas e árvores cobertas pela enchente.

As fortes chuvas que acontecem na Região Metropolitana do Recife desde o final de maio desencadearam deslizamentos em encostas de morro, enchentes nas margens de rios e córregos e alagamentos em diversos bairros. Suas consequências foram uma tragédia. Encerrada a busca por desaparecidos, Pernambuco registrou 129 mortes e mais de 9 mil pessoas desalojadas.

O período de emergência climática que vivemos não pode ser relativizado. A ocorrência de eventos atmosféricos extremos será cada vez mais intensa e em intervalos menores. O fato de termos passado por um evento de grande magnitude, contudo, não pode ser utilizado pelo poder público como justificativa para dizer que foi pego de surpresa.

O reconhecimento de que vivemos o estado de emergência climática deveria, isso sim, servir para que as ações das prefeituras, do governo do estado e do governo federal fossem mais estruturais do que os paliativos que muitas vezes são utilizados na contenção de encostas, por exemplo com o uso de lonas.

Em 2021, a Prefeitura do Recife retirou 5 milhões de reais do orçamento municipal destinado ao cuidado com os rios e cursos d’água, destinando este valor para os gastos com comunicação. Este é só um dado que demonstra que o Recife, cidade que está entre as mais vulneráveis às mudanças climáticas, não tem dado centralidade à questão em sua agenda cotidiana. De nada adiantou que o governo do PSB tenha reconhecido, por decreto, o estado de emergência climática, sendo que suas ações ignoram tal situação.

A consequência desta política é que a totalidade das mortes e a imensa maioria dos desalojados são pessoas negras de bairros periféricos da região metropolitana. Embora toda a cidade tenha sido atingida pelas intensas chuvas, as consequências fatais do evento só atingiram a população pobre, numa clara expressão de como o racismo ambiental operou em desfavor daqueles(as) que não são os responsáveis pela ação predatória do grande capital contra a natureza.

O governo Bolsonaro cortou no ano passado 75% das verbas direcionadas ao enfrentamento de eventos climáticos extremos. Assim, o que assistimos este ano na Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Amapá e agora em Pernambuco não são acidentes, mas consequências da política negacionista das mudanças climáticas que o governo federal implementa e governos estaduais/municipais reproduzem em menor escala.

A natureza desta crise, desde as mudanças no clima até os deslizamentos e enchentes, passando pela história das cidades que se construíram empurrando os pobres e negros para as áreas de risco, não é natural, mas social e política. Enfrentá-la é uma tarefa central para a classe que é mais violentamente atingida por seus efeitos.

*Texto: Gabriel Augusto (Ecoar PE)

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