Para que o amanhã não seja como ontem: por uma UNE radical e pelas bases

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Manifesto do Ecoar para o 59º Congresso da UNE

Chegamos ao 59º Congresso Nacional da UNE após enfrentar quatro anos de um governo genocida, capitaneado por um fascista, que se empenhou em destruir direitos conquistados a partir de lutas históricas e teve como um de seus motes o ataque às universidades e à ciência. Esse cenário exige de nós coragem para fazer um balanço de nossas lutas ao longo desse período e para reiterar que a única via de viver uma realidade diferente dessa é a luta e a mobilização do nosso povo.

A juventude precisa unir forças para construir um projeto de sociedade que defenda o nosso futuro, para que o amanhã não seja como ontem!

O Ecoar – Juventude Ecossocialista é um coletivo de jovens que se propõe a somar forças a esse processo, por meio da construção coletiva de um projeto de educação que de fato sirva aos nossos interesses, que leve adiante uma perspectiva popular de universidade e que mobilize o corpo estudantil.

Defendemos que a União Nacional dos Estudantes seja construída dessa forma, com a base estudantil ativa, em lutas conectadas com as demandas das trabalhadoras e dos trabalhadores universitários. Partindo disso, construímos os espaços preparatórios para o CONUNE nas universidades em que temos inserção e a nossa participação no Congresso terá o objetivo de debater sobre a sociedade que desejamos construir.

O mundo passa por uma grave crise de múltiplas dimensões, que já escalonava antes da pandemia da Covid-19 e, com sua chegada, passou por uma forte intensificação. O mercado financeiro e a riqueza dos de cima crescem, enquanto a classe trabalhadora passa fome e se amplia o abismo a desigualdade no planeta. O capitalismo aprofunda seu modo de produção sustentado na extração de matéria-prima, levando a crise ambiental a patamares irreversíveis, que atingem principalmente as populações pobres, negras, indígenas, as mulheres e as LGBTQIA+. O que acontecer nos próximos poucos anos indicará as condições de vida na Terra nas próximas décadas ou até séculos.

O Brasil, um país da periferia do capitalismo, tem no agronegócio e na mineração os pilares da sua economia. Esses setores das classes dominantes foram essenciais para a eleição de Bolsonaro, que foi responsável pela morte de centenas de milhares do nosso povo e implantou um projeto ecocida, que funciona para enriquecer os bolsos dos que lucram com a destruição da natureza, o sofrimento e a morte dos povos originários.

Os ataques vieram pelas mais diversas vias e, durante a pandemia, o movimento negro protagonizou a retomada das ruas pelas nossas mãos quando se manifestou contra as chacinas. Esse foi um marco importante de denúncia da chamada “guerra às drogas” e do projeto de genocídio do povo negro que está por trás desse discurso. A partir de então, a permanência nas ruas, para lutar em defesa das nossas vidas, foi fundamental para o desgaste de Bolsonaro na presidência.

A juventude foi peça-chave para sua derrota eleitoral, mas está cada vez mais evidente para nós que ainda temos muito pelo que lutar. A vitória de Lula nas urnas reforçou que não será por meio das eleições que derrotaremos o fascismo e a extrema-direita. E viver sob o mandato de Bolsonaro não deixou dúvidas sobre essas serem as nossas principais ameaças.

O que está em jogo é o que é capaz de destruir o fascismo, projeto encampado inclusive por setores que posteriormente construíram a campanha de Lula. Os limites de um projeto como o apresentado por este governo são evidentes: não é possível servir às classes dominantes e acabar com os trágicos problemas enfrentados pela classe trabalhadora. Se já pudemos observar isso nos dois primeiros governos de Lula, 20 anos depois, em meio a uma crise estrutural do capitalismo, isso fica ainda mais nítido.

Uma demonstração disso foi que, embora os primeiros meses do governo de Lula tenham sido importantes para denunciar atrocidades como o massacre do povo Yanomami, provavelmente uma das maiores tragédias dos nossos tempos, sabemos que o freio de emergência de que precisamos não será de fato acionado sem políticas profundamentes comprometidas com o fim da destruição da natureza – elemento central para barrar o genocídio indígena. Com cinco meses de mandato, o governo já demonstrou que cederá às exigências do Centrão nas pautas ambientais, rifando inclusive a política de demarcação das terras indígenas. Não podemos aceitar!

Ao longo das últimas décadas vimos a implementação de políticas como o Reuni, o ProUni e o FIES. Essas políticas tiveram grandes impactos para a vida da juventude negra e trabalhadora, que passou a ter maiores chances de ingressar nas universidades. No entanto, ao analisá-las de forma mais estrutural, sobressai os ganhos obtidos pelas grandes empresas da educação, que lucraram e seguem lucrando com seu funcionamento.

A Lei de Cotas, que ampliou o direito da juventude negra ao ensino público, foi uma das maiores vitórias do movimento negro em nossa história recente. Mas ainda há muitos desafios, pois a falta de políticas de permanência estudantil levou, 10 anos depois da aprovação da lei, a uma maior taxa de evasão entre as e os estudantes negros.

Projetos como o Novo Ensino Médio ameaçam direitos conquistados historicamente no âmbito da educação. Em evidente esforço de mercantilizar o ensino público, a tentativa que estamos vendo é de formar não uma massa de estudantes conscientes e que ocuparão as universidades públicas, mas uma massa de mão de obra a ser explorada no futuro.

Nesse mesmo sentido, não aceitamos o arcabouço fiscal apresentado por Haddad, ministro de Lula, que pouco se difere do teto de gastos imposto por Temer e contra o qual lutamos incansavelmente. Esse é um ataque direto aos serviços públicos e à qualidade de vida de nosso povo.

Todas essas experiências são típicas de um projeto de colaboração de classes que, como dissemos, tem limites evidentes e intransponíveis. Por essa razão, não nos contentamos com políticas que não enfrentam os problemas que vivemos em sua raiz. Nossa luta será pela derrubada de políticas neoliberais para a educação, mas para ir além: o nosso principal desafio é derrubar esse projeto de sociedade e construir uma alternativa baseada num horizonte revolucionário e emancipatório.

Para isso, é preciso que o conjunto de estudantes e trabalhadoras/es da educação esteja mobilizado e organizado coletivamente para lutar por suas demandas em suas instituições de ensino, por uma projeto de educação que vá na contramão da lógica do lucro acima da vida, na defesa por uma educação acessível, crítica, independente, pelas bases e emancipatória. Em nossa visão, somente dessa forma construiremos um projeto de educação que sirva aos interesses do futuro da nossa juventude.

O movimento estudantil tem imenso potencial para se tornar uma força poderosa na formação do futuro do Brasil. A UNE, como sua entidade máxima, pode cumprir um papel fundamental nessa luta. Para isso, precisará ter a valentia de superar sua burocratização e seu distanciamento com as bases estudantis.

Para reverter esse processo, nos inspiramos no papel histórico que a UNE já desempenhou com bravura, posicionando-se à frente de lutas cruciais ao longo da história de nosso país. Será abraçando definitivamente os princípios democráticos e abordando de forma resoluta as questões que afligem o Brasil que será possível construir um amanhã que não perpetue os erros de ontem.

Nossos sonhos são incontáveis, grandes e indomáveis. E nossa luta é para construí-los, de forma coletiva e democrática. Eles não cabem nesse sistema e é em razão disso que também lutamos pela construção de um novo mundo, sem racismo, sem machismo, sem lgbtfobia, sem capacitismo e sem exploração da natureza. A nossa luta é pela construção do ecossocialismo, na certeza de que somente assim nós nos colocaremos verdadeiramente contra esse projeto de barbárie.

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Some-se ao Ecoar na luta por uma UNE combativa, independente das reitorias e governos, e verdadeiramente alinhada às demandas estudantis!

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