Quantos mais tem que morrer para essa guerra acabar?

Frente da Luta Abolicionista / Coletivo Ecoar

O massacre, a dor e o sofrimento são marcas permanentes da história do Brasil. São marcas permanentes da maioria da nossa população. Da maioria trabalhadora, da maioria negra, da maioria explorada e marginalizada. Se a mais de 500 anos atrás tiveram início os sequestros em massa e a escravização do povo negro trazido pra cá, podemos afirmar, com convicção, que esse cenário de barbárie nunca se encerrou. Se por quase 400 anos a população negra foi torturada e escravizada no Brasil, com a abolição formal da escravidão o Estado brasileiro encontrou novas formas de persegui-la, torturá-la e controlar a sua revolta em potencial diante do cenário de exploração e desigualdade do capitalismo.

A “guerra às drogas” – assim chamada pelos de cima, que detém o poder – é uma das atualizações dessa política de morte. É em nome dessa guerra que o Estado prende, interna, tortura e mata a juventude negra brasileira todos os dias. Se nas nossas leis existem mais de 1.600 tipos de crimes de diferentes, a imensa maioria das mais de 750 mil pessoas presas hoje no Brasil está nessa condição por conta de acusações ou condenações por crimes contra o patrimônio e de tráfico de drogas.

“O patrimônio precisa ser protegido”, diz o Estado. Nós já entendemos o patrimônio de quem precisa ser protegido e em nome do que se dá essa proteção.

As tantas pessoas presas por tráfico de drogas são obrigadas a ler em suas sentenças que são um “grande perigo à saúde pública”. E quando nós vamos às ruas todos os anos, nas Marchas por todo o país, gritando que as drogas são uma questão de saúde pública? O Estado nos responde que não, que na verdade “é caso de polícia”.

A nossa luta é pela vida das nossas e dos nossos. Dizemos ao Estado que basta! Basta de nos prender, de nos internar, de nos torturar e de nos matar. A nossa luta é pelas pelo menos 111 vidas tiradas no massacre do Carandiru, é por Amarildo Souza, Laura de Vermont, Ágatha Felix, Marcos Vinicius, João Pedro, Marcos Paulo, Dennys Guilherme, Denys Henrique, Gustavo Cruz, Gabriel Rogério, Mateus dos Santos, Bruno Gabriel e Luara Victoria. É por todas as vítimas do estado brasileiro e por suas famílias. Presentes!

Queremos a desmilitarização da polícia, instituição que é máquina de prender, torturar e matar. Queremos o fim das políticas manicomiais, que internam nossa população em instituições para que seja esquecida e abandonada. Queremos a construção de uma política de drogas que não seja feita para prender a população negra e trabalhadora, mas que seja construída por nossas próprias mãos, que seja para legalizar e que seja para libertar.

Queremos essas transformações imediatas porque queremos sobreviver. Mas, além disso, nós queremos mais, muito mais. Queremos a construção de um mundo novo, de um mundo ecossocialista e libertário. Para isso precisamos destruir esse modo de produção que se constrói e consolida todos os dias sobre a tortura do nosso povo, sua morte e aprisionamento. Para lutar pela construção de um novo mundo é preciso ter a coragem de afirmar que não aceitamos mais viver em um mundo com prisões e manicômios. Queremos a liberdade. Liberdade para viver, liberdade para existir.

Marielle perguntou, nós também vamos perguntar: quantos mais tem que morrer pra essa guerra acabar?