Por uma revolução de todas as cores!

Setorial LGBTQ+ / Coletivo Ecoar

Muito antes de ser eleito, Bolsonaro já indicava que faria um governo de ataque aos direitos das pessoas LGBTs. Ainda durante sua campanha, os registros de violência contra as nossas vidas aumentaram. Chegando ao governo, a extrema direita coloca de forma ainda mais intensa as nossas vidas e nossos corpos na linha de tiro. Não à toa, Bolsonaro tem Damares Alves como Ministra da Família e dos Direitos Humanos, que trabalha incessantemente para implementar uma política de extermínio dos direitos das mulheres e das pessoas LGBTQ+.

O contexto em que vivemos é de agravamento da vulnerabilidade de nossa saúde e das nossas vidas. No Brasil, a expectativa de vida de uma pessoa transexual é de 35 anos. Nosso país é o quinto do mundo com maior índice de feminicídio e o primeiro em feminicídio de mulheres trans e travestis. Mulheres cis lésbicas e bissexuais, homens trans e transmasculines têm seus direitos sexuais e reprodutivos negados por uma política de saúde estruturada  nos moldes da cis-heteronormatividade, mesmo no âmbito SUS.

Na pandemia, nosso gênero e sexualidade são apontados como fator de risco para demissões por “cortes orçamentários”. Além disso, estamos nos piores empregos e nos piores serviços. O telemarketing, o comércio varejista, a informalidade e a prostituição concentram um imenso contigente das LGBTQ+s de nossa classe. Esta posição marginalizada no mundo do trabalho revela as conexões entre a exploração de classe e a opressão lgbtfóbica.

No capitalismo, a família cumpre um papel central de reprodutora dos papéis sociais, de gênero e de sexualidade. É nela que são ensinadas a hierarquia e os valores necessários para que sejamos trabalhadoras e trabalhadores nos moldes em que a ideologia dominante orienta. Para as LGBTs, que necessariamente desviam do papel que nos é destinado no interior da família, esta se torna muitas vezes um lugar de opressão e de violência. Por isso, afirmamos: esse modo de produção não garante as nossas necessidades. A luta LGBTQ+ precisa ser anticapitalista e revolucionária.

Anticapitalista porque não aceitamos o papel que nos relegam, em que a cisheteronormatividade é o modelo para a reprodução das relações que dão continuidade a nossa exploração. Recusamos o apoio vazio das multinacionais, que usam nossas identidades como marcos da própria progressividade enquanto lucram com o trabalho e a exclusão dos nossos corpos.

Somos pessoas revolucionárias porque exigimos o direito de ser e existir fora dos padrões que nos foram impostos. Rejeitamos aceitação que vem atrelada ao “normal” e ao “respeitável”. Renunciamos às saídas fáceis e à noção de que tudo que queremos é o direito de amar como qualquer outra pessoa. Solteiras ou em relacionamentos, monogâmicas ou poliamorosas, allo ou arromânticas, não somos definidas pelas pessoas que são nossas parceiras, sejam elas de gêneros semelhantes ou diferentes dos nossos.

Nosso amor, porém, é de fato revolucionário. É o amor que nutrimos por nós mesmas e nossa comunidade, a rebeldia que vem não só da nossa sobrevivência, mas da nossa coragem de resistir às opressões em águas tempestuosas.

Nós, LGBTQ+s, precisamos estar atentas e fortes. Frente às múltiplas opressões que nos atacam, ecoamos nossas vozes em uma luta comum. A luta pela construção de um mundo em que nossa existência seja livre e plena, a luta por uma revolução de todas as cores.

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