Nossa emancipação será conquistada por nossas próprias mãos!

Setorial de Mulheres / Coletivo Ecoar

A sociedade capitalista neoliberal tem como uma de suas características mais cruéis o descaso frente às necessidades básicas para nossa sobrevivência. Para alguns setores da nossa população o impacto disso é mais devastador. É o caso de nós, mulheres, especialmente negras, que temos nossos direitos e vidas colocados permanentemente em segundo plano para o Estado, ou até mesmo fora de qualquer plano.

A posição que ocupamos na nossa sociedade tem como origem o apagamento das funções que exercemos nela. Somos as responsáveis por garantir que cada criança esteja cotidianamente na escola e por dar subsídios para que cada trabalhador(a) esteja nas ruas logo cedo para trabalhar. Isso se dá porque nós garantimos condições para que diariamente as funções exercidas por cada pessoa na sociedade sejam executadas. E mais: além de sermos as sujeitas que exercem esse “trabalho invisível”, também estamos nos mercados de trabalho formal e informal, ocupando os postos mais precarizados e com os salários mais baixos.

Para além dessas inúmeras violências que sofremos por ataques do Estado e daqueles que lucram com nossa força de trabalho, nós somos vítimas de outras formas de violências cotidianas, em desrespeito aos nossos corpos e à nossa liberdade. No primeiro semestre de 2020, durante a pandemia da COVID-19, cerca de 1.890 mulheres foram assassinadas, sendo que em 631 desses casos houve motivação relacionada à condição de gênero e em 73% deles as vítimas foram mulheres negras.

Precisamos ter clareza de que essa violência não se trata de um problema que “está nos homens” ou de uma “questão individual”. Estamos falando de um sistema estruturado e sustentado pelo trabalho que nós exercemos e, ao mesmo tempo, que nos subjuga, violenta e humilha todos os dias. Além disso, falar em um sistema patriarcal não nos basta para compreender a complexidade da opressão que sofremos. As mulheres não sofrem de maneiras iguais entre si e o sistema que rege nossas vidas também se consolidou e se sustenta sobre outros pilares. Nosso inimigo é um sistema engendrado pela divisão da sociedade em classes, pelo racismo e pelo patriarcado.

Se nós somos alvo de tamanha opressão, precisamos nos emancipar por nossas próprias mãos e punhos cerrados. Somos sujeitas imprescindíveis para destruir o sistema em que vivemos e construir um novo mundo em que sejamos livres. Somos mulheres jovens feministas e frente ao capitalismo neoliberal, para derrotar os de cima, tirar Bolsonaro do poder e destruir cada um de seus aliados, propomos a auto-organização de mulheres com imediata e radical orientação de classe. Nosso feminismo tem lado!

Rejeitamos a subestimação estrutural que o capitalismo impõe ao nosso trabalho, seja ele remunerado ou não, e exigimos investimento público em serviços sociais de assistência às mulheres vítimas de violência – seja ela vinda de seus companheiros, filhos, pais ou do próprio Estado. Enfrentamos uma crise de magnitude inédita, com trágicas mudanças climáticas e queda abrupta na qualidade de vida, guerras e despossessão, fortalecimento de violências racistas estatais e regressão de direitos conquistados por nós com muita luta. A partir disso, construímos a possibilidade de um novo estágio da luta de classes: feminista, internacionalista, antirracista e ecossocialista.

É diante de tudo isso que afirmamos: o feminismo precisa se erguer em nome de todas aquelas que são exploradas, dominadas e oprimidas, sendo uma alavanca de esperança para a pluralidade da humanidade e se unindo a todo movimento que luta pela maioria da nossa população. É com essa potência e vontade de transformar o mundo e nos emancipar que fazemos um chamado a vocês, meninas e mulheres jovens de todo o território brasileiro, compreendidas em todas suas diversidades, transgêneras, travestis, negras, indígenas, quilombolas, deficientes, lésbicas, bissexuais, migrantes, camponesas, nortistas, periféricas e faveladas, mães, desempregadas, trabalhadoras de serviços essenciais ou historicamente sub-dignificados e vítimas de violência a somar com cada uma de nós na construção da luta feminista, para ecoarem ao nosso lado as vozes de todas as que sofrem e que buscam caminhar para a construção de nova sociedade!

icon feminista