Para que o amanhã não seja como ontem!

Para que o amanhã não seja como ontem: Por uma UNE radical e pelas bases

Tese do Ecoar – Juventude Ecossocialista para o 59º Congresso da UNE

Chegamos ao 59º Congresso Nacional da UNE após derrotar nas urnas um governo genocida, capitaneado por um fascista, que se empenhou em destruir direitos conquistados a partir de lutas históricas e que atacou as universidades e a ciência. Esse cenário exige de nós reflexão para que essa vitória não termine em si mesma. 

A juventude precisa unir forças para construir um projeto de sociedade que defenda o nosso futuro, para que o amanhã não seja como ontem!

O Ecoar – Juventude Ecossocialista é um coletivo de jovens que se propõe a somar forças a esse processo, por meio da construção coletiva de um projeto de educação que de fato sirva aos nossos interesses, que leve adiante uma perspectiva ecossocialista de universidade.

Defendemos que a União Nacional dos Estudantes seja construída com a base estudantil ativa, em lutas conectadas com as demandas das trabalhadoras e dos trabalhadores universitários. Assim, o CONUNE é um importante espaço de reflexão sobre as próximas lutas.

O mundo passa por uma grave crise de múltiplas dimensões, que já escalonava antes da pandemia da Covid-19 e, com sua chegada, passou por uma forte intensificação. A riqueza dos de cima cresce, enquanto a classe trabalhadora passa fome e se amplia a desigualdade no planeta. O capitalismo aprofunda seu modo de produção sustentado na acumulação, levando a crise ambiental a patamares irreversíveis, que atingem principalmente as populações pobres, negras, indígenas, as mulheres e as pessoas LGBTQIAPN+. O que acontecer nos próximos anos indicará se a vida humana terá chance de continuar.

O Brasil, um país da periferia do capitalismo, tem no agronegócio e na mineração os pilares da sua economia. Esses setores das classes dominantes foram essenciais para a eleição de Bolsonaro, que foi responsável pela morte de centenas de milhares do nosso povo e implantou um projeto ecocida, anti-povos tradicionais e originários, anti-povo.

Os ataques vieram pelas mais diversas vias e, durante a pandemia, o movimento negro protagonizou a retomada das ruas quando se manifestou contra as chacinas. Esse foi um marco importante de denúncia da chamada “guerra às drogas” e do projeto de genocídio do povo negro que está por trás desse discurso. A partir de então, a permanência nas ruas, para lutar em defesa das nossas vidas, foi fundamental para o desgaste de Bolsonaro na presidência.

Passada a eleição e com Bolsonaro derrotado nas urnas, o que está em jogo é como derrotaremos o fascismo. A conciliação de classes, defendida pelo atual governo, não funciona para nós: é impossível servir às classes dominantes e acabar com os trágicos problemas enfrentados pela classe trabalhadora. Nos mandatos anteriores, ela já encontrou limites. Na educação, por exemplo, vale citar o Reuni e o Prouni, que foram responsáveis por colocar nas universidades a juventude preta e periférica, mas provocou um endividamento em massa de jovens brasileiros, enriquecendo os tubarões da educação. As Jornadas de 2013, que completam 10 anos, já denunciavam a insuficiência dessa conciliação, reivindicando que o Estado brasileiro servisse à população, e não ao 1%. Hoje, em meio a uma crise estrutural do capitalismo, os limites dessa conciliação ficam ainda mais nítidos.

Embora os primeiros meses do atual mandato de Lula tenham revertido alguns dos ataques bolsonaristas, sabemos que o freio de emergência de que precisamos não será de fato acionado sem políticas profundamente comprometidas com o fim da destruição da natureza. Com cinco meses de mandato, o governo já demonstrou a intenção de montar uma coalizão com a mesma burguesia agro-exploratória que sustentou Bolsonaro, rifando inclusive políticas de demarcação das terras indígenas e de defesa de biomas.

No novo governo, a continuidade de projetos como o Novo Ensino Médio ameaça direitos na educação. Trata-se de formar uma massa de mão de obra a ser explorada no futuro, mercantilizando o ensino público. Nesse mesmo sentido, não aceitamos o arcabouço fiscal apresentado por Haddad, ministro de Lula, que pouco se difere do teto de gastos imposto por Temer e contra o qual lutamos incansavelmente. Esse é um ataque direto aos serviços públicos e à qualidade de vida de nosso povo. 

Estes exemplos demonstram os limites da conciliação de classes, que deve ser vista por nós como uma política adversária. Uma UNE de luta não pode se associar a isso.

A UNE que queremos precisará ter a valentia de superar sua burocratização e seu distanciamento com as bases estudantis. O Movimento Estudantil pode cumprir um papel relevante na oposição a essas medidas. A UNE precisa lutar! Lutar por um mundo novo! Um mundo sem racismo, sem machismo, sem lgbtfobia, sem capacitismo e sem exploração da natureza. Esses são nossos sonhos, indomáveis, e é por isso que estamos aqui.

 

O QUE QUEREMOS ECOAR: 

  •  Educação crítica, ecossocialista, que nos liberte das amarras do capitalismo imperialista, que emancipe nosso povo e defenda a natureza!
  • Espaços de educação seguros e inclusivos para as populações negras, tradicionais e originárias, PCDs, mulheres, LGBTQIANP+ e neurodivergente.
  • Recomposição orçamentária das universidades! Não aos grupos privados! Não ao Novo Arcabouço Fiscal! Revoga Novo Ensino Médio!
  • Ampliação da política de cotas, incorporando pessoas trans e com participação de movimentos sociais em sua construção.
  • UNE e DCEs independentes de governos e reitorias: queremos universidades verdadeiramente democráticas.
  • Extensão universitária: nosso conhecimento servindo à comunidade, para além dos muros!
  • Políticas amplas de permanência, que garantam alimentação, moradia, atenção em saúde mental e autonomia financeira!

 

A crise global e nossas tarefas: a juventude contra o fascismo, em defesa da natureza e de nossos direitos!

O mundo passa por uma grave crise econômica. Essa crise escalona desde antes da pandemia da Covid-19 e se intensificou depois dela. O grau de especulação financeira cresce, juntamente com a desigualdade no planeta. O sistema bancário global está anunciando o seu colapso. Nesse processo de crise do capital, as potências imperialistas escolhem o caminho que historicamente traçaram – o da guerra, sendo o confronto entre a OTAN e a Rússia em torno da Ucrânia o principal símbolo da falência sistêmica. Além disso, é essencial destacar que o capitalismo segue sendo um modo de produção sustentado na extração desordenada de matéria-prima, sem nenhum recuo quanto a isso, levando à progressão da crise ambiental, que atinge, principalmente, as populações pobres, não-brancas e as mulheres.

Este cenário atinge diretamente o Brasil, economia dependente, na periferia do capitalismo, que tem no agronegócio e na mineração os pilares da acumulação de seu capital. Esses setores conseguiram hegemonizar outras frações burguesas e produziram uma grande coalizão antiambientalista, racista, lgbtfóbica, machista, conservadora, fundamentalista, militar e, sobretudo, burguesa. A eleição de um governo fascista apresentou várias singularidades e, a partir de 2020, a maior delas aflorou: o mundo foi tomado pela pandemia da Covid-19, que alterou consideravelmente o cotidiano da vida das pessoas, e ceifou seis milhões de vidas.

No caso brasileiro, Bolsonaro negou veementemente a existência da pandemia em seu início; depois, promoveu a proliferação de métodos ineficientes de tratamento e levantou dúvidas quanto à eficácia das vacinas. Centenas de milhares de brasileiros morreram, vários adoeceram e tiveram sequelas, e a crise econômica escalonou, levando a um cenário de sofrimento e miséria, em que o povo não conseguia sequer se alimentar dos restos de proteína animal que os mercados passaram a comercializar.

Neste cenário degradante, somado ao acúmulo de escândalos de corrupção e à desmoralizante política de degradação completa do meio ambiente, formou-se uma ampla aliança em torno da candidatura de Lula, que concentrou de setores burgueses a setores revolucionários que enxergavam a derrota eleitoral de Bolsonaro uma urgência política. Em meio a uma combinação entre os recuos e sinalizações de Lula à burguesia e a compra de votos fraudulenta de Bolsonaro, Lula conseguiu derrotar Bolsonaro de maneira extremamente frágil, uma vitória apertada.

Nesse cenário, a burguesia ampliou as suas pressões sobre o governo Lula, que já anunciava ser um governo de conciliação e aprofundou esse caráter após a sua posse. As reformas neoliberais aprovadas desde o segundo mandato de Dilma Rousseff e acentuadas em Temer e Bolsonaro não estão sendo revogadas. O anúncio de medidas mais combativas no meio ambiente vem associado à contraditória busca por agradar o agronegócio e as mineradoras. O novo arcabouço fiscal, proposto pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad, trata de forte restrição de gastos, que mantém o Brasil como um grande pagador de dívida aos banqueiros do planeta inteiro, sem conseguir fornecer serviços básicos à sua população. Especificamente na área da educação, o governo suspendeu o Novo Ensino Médio apenas em resposta à ampla mobilização de estudantes e professores e professoras, sem qualquer indício concreto de revogação.

Nesse cenário, a juventude e toda a classe trabalhadora têm como tarefas imediatas o enfrentamento ao bolsonarismo, que ainda existe e é uma ameaça constante a nossas vidas; a construção de uma oposição às medidas neoliberais e de coalizão de classe encampadas pelo governo Lula; e barrar a destruição da natureza, para garantir a continuidade de nossa existência na Terra.

 

Educação brasileira: do neoliberalismo ao neofascismo 

É preciso olhar a fundo para o papel cumprido pelo neoliberalismo na educação brasileira. Durante os governos petistas houve um crescimento do ensino superior público, possibilitado essencialmente por um contexto internacional que propiciou uma expansão econômica e, consequentemente, das universidades públicas. Ainda assim, mesmo com condições favoráveis ao investimento nessas instituições, houve um crescimento robusto dos oligopólios da educação – de empresas como a Kroton e a Estácio – que se deu, principalmente, através dos programas do FIES e do Prouni.

Essas empresas são responsáveis pelo fornecimento de uma educação mercantilizada, ou seja, que visa o lucro e é marcada pelo tecnicismo, isto é, pela formação de uma mão de obra para suprir demandas do mercado capitalista, colocando docentes como reprodutores de conteúdos e estudantes apenas como receptores passivos. Além disso, as universidades sob o domínio das gigantes da educação carecem de pesquisa e projetos de extensão. Isso impossibilita a troca de relações e experiências dentro do ambiente universitário, restringindo a formação de profissionais com habilidades em diferentes áreas e com uma visão crítica sobre a sociedade em que vivemos.

Há também uma grande imposição de limites à organização estudantil, fator que prejudica mobilizações de estudantes que lutam por melhores condições de ensino e estrutura nas universidades. O mesmo ocorre quando se fala na organização de professores, professoras, funcionários e funcionárias, impossibilitados de se articular na luta por melhores condições de trabalho. Também é visível nessas instituições a falta de políticas de permanência estudantil, como auxílio moradia, alimentação e transporte.

Num contexto de ascensão do neofascismo no Brasil, foram vários os ataques às universidades, sobretudo as públicas, sofridas sob a gestão de Bolsonaro. Ocorreram diversas intervenções em reitorias de Universidades Federais, com o objetivo de barrar a luta estudantil e dar prosseguimento a um projeto de precarização do ensino público superior. Além disso, não se pode esquecer dos cortes quase integrais nas verbas destinadas às universidades federais, que ameaçaram o fechamento de grandes instituições brasileiras, como a UFRJ, que não tinha dinheiro para pagar contas relacionadas à despesas básicas, como conta de luz, água e salários.

 

Que educação defendemos?

Se, por um lado, precisamos barrar os ataques do neoliberalismo à educação, o que significa, por exemplo, lutar contra os cortes de bolsas de pesquisa, de orçamento de universidades, de bolsas ProUni e FIES, por outro, precisamos ir além: derrubar o projeto neoliberal de educação e construir uma alternativa baseada num horizonte revolucionário e emancipatório. É nesse sentido que lutamos por uma educação que esteja a serviço do conjunto de exploradas e oprimidos, que seja produzida e decidida pelas bases, e que seja independente frente à institucionalidade.

Isso significa que defendemos que o conjunto de estudantes, funcionários e funcionárias, professores e professoras no espaços de ensino estejam mobilizados e organizados coletivamente para lutar por demandas da realidade local de suas instituições de ensino, por uma projeto de educação que vá na contramão da lógica do lucro acima da vida, na defesa por uma educação acessível, crítica, emancipatória e que seja feita pela e para a classe trabalhadora. É dessa forma que as demandas acerca de um projeto de educação popular e combativo podem se concretizar: a partir das bases em luta pelos seus próprios interesses.

Assim, defendemos a ampliação dos espaços democráticos das instituições de ensino com a perspectiva de participação central e integral dos estudantes, funcionários e funcionárias, professores e professoras diante dos processos decisórios das suas universidades. A educação que é produzida por meio desses sujeitos deve também ser autogestionada por espaços de mobilização que resguardem independência política frente à institucionalidade, seja ela a reitoria, os cargos de direção, ou empresas e governos.

Junto à mobilização social independente, lutamos por um projeto de educação combativo, que sirva aos interesses sociais e ecológicos.

Lutamos pela ampliação do acesso ao ensino, por meio do aumento de recursos para a educação pública, pelo fim do vestibular e pela estatização de universidades privadas. Ao mesmo tempo, é central a defesa e constante ampliação das políticas de permanência estudantil – como a garantia de creches gratuitas, moradia estudantil, alimentação, bolsa xerox, fim de estágios obrigatórios não remunerados. Não basta ingressar nas universidade, é preciso que os e as estudantes consigam se manter nela. Somente assim será possível erradicar as taxas de evasão por falta de condições materiais para concluir os estudos.

Em termos de qualidade de ensino, defendemos uma educação que seja emancipatória, que estimule o senso crítico de estudantes e preze pelo desenvolvimento pessoal e social. Por isso, enfrentamos as grades curriculares voltadas aos conhecimentos meramente técnicos para os interesses do mercado de trabalho, os cortes de disciplinas críticas da área de Ciências Humanas, os conteúdos baseados nas narrativas dominantes de opressores históricos.

A defesa de um ensino crítico envolve tanto o avanço da consciência emancipatória do corpo estudantil diante das estruturas opressoras do capital, quanto o avanço da consciência ecológica, entendendo a necessidade de lutarmos para barrar o desmatamento e a relação exploratória com a natureza, contra o produtivismo e o distanciamento imposto pelo capitalismo entre nós, seres humanos, e o restante da natureza.

Defendemos o tripé do ensino, pesquisa e extensão, de modo que os ensinamentos produzidos pelas universidades superem os muros da universidade, alcancem e dialoguem com a população. Para isso, é fundamental implementar o reajuste, com base no aumento dos atuais custos de vida, das bolsas de pós-graduação, mestrado, doutorado e iniciação científica. Também reivindicamos o apoio a cursinhos populares, projetos culturais e demais atividades de extensão.

Assim, condicionados às reivindicações de ampliação de necessidades sociais, como a garantia de acesso, permanência e qualidade de ensino, precisam ser asseguradas e ampliadas as condições de trabalho e vida dos funcionários e funcionárias, professores e professoras envolvidas nas atividades das instituições de ensino. Isso implica lutarmos contra a precarização do trabalho, que se expressa por meio da redução dos salários, falta de reajuste, demissões em massa, terceirizações, falta de acesso a creches, alimentação, moradia e saúde, que aprofundam a exploração daquelas que, em conjunto com o corpo estudantil, fazem a educação funcionar no dia a dia.

A nossa luta é para impedir que o capital intensifique a mercantilização do ensino e a exploração da classe trabalhadora e estudantil. A alternativa à nossa realidade é construir e avançar num novo projeto de educação, que seja combativo, pelas bases e independente!

Os desafios são muitos e robustos. Diante deles, vemos que o movimento estudantil tem imenso potencial para se tornar uma força poderosa na formação do futuro do Brasil. A UNE, como sua entidade máxima, pode cumprir um papel fundamental nessa luta. Para isso, precisará ter a valentia de superar sua burocratização e seu distanciamento com as bases estudantis.

Nossos sonhos são incontáveis, gigantes e indomáveis. E nossa luta é para construí-los, de forma coletiva e democrática. Eles não cabem nesse sistema e é em razão disso que também lutamos pela construção de um novo mundo, sem racismo, sem machismo, sem lgbtfobia, sem capacitismo e sem exploração da natureza. 

A nossa luta é para que nosso amanhã não seja como o ontem! É pela construção do ecossocialismo, na certeza de que somente assim nós nos colocaremos verdadeiramente contra esse projeto de barbárie.

2 comentários em “Para que o amanhã não seja como ontem!”

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