Seguimos na luta por uma UNE radical e pelas bases

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Balanços e perspectivas do Ecoar sobre o 59° Conune

O coletivo Ecoar – Juventude Ecossocialista construiu para o 59º CONUNE a tese “Para que amanhã não seja como ontem!” e compôs a chapa “UNE Independente e Combativa”, que levou adiante uma política consequente de construção de um futuro alternativo para educação, em contraposição à estratégia burocratizada majoritária na entidade, protagonizada pela UJS. A chapa conquistou três cadeiras na executiva da UNE, expressando a conformação de maior unidade possível da oposição de esquerda pelos coletivos Ecoar, Pajeú, Alicerce, Revolução Socialista, Juntos!, Vamos à Luta, UJC e Correnteza. Além disso, vimos positivamente a retirada de chapa do Rebeldia, em suporte à chapa da oposição unificada. Ainda no campo à esquerda da UNE, a Juventude Sem Medo (Afronte!, RUA, Manifesta, Fogo do Pavio, Brigadas Populares, Travessia) saiu em chapa separada, optando pela união com Quilombo, do PT. 

Desde o início das etapas preparatórias para o congresso, nosso coletivo vem acumulando sobre a importância de garantir a unidade da oposição de esquerda, tendo em mente que a disputa principal que continua em jogo na UNE é a de superação de uma direção majoritária que aposta no imobilismo da entidade, freando o potencial do movimento estudantil brasileiro frente a luta de classes no país. 

Neste ano, em que o campo político associado à direção majoritária da UNE retoma seu posto no Governo Federal com a vitória de Lula (PT), os reflexos da falta de independência política voltam a se exacerbar e expor seus limites. Ainda que a derrota de Bolsonaro nas urnas tenha sido uma vitória para nossa luta, sabemos que o futuro a que aspiramos depende de uma avaliação crítica que reconheça a inviabilidade da conciliação de classe enquanto saída para os problemas que enfrentamos. Por isso, é urgente construir uma UNE que não seja uma constante reiteração das medidas implementadas pelo Governo Federal, que chega ao ponto de não se colocar frontalmente contra o arcabouço fiscal, verdadeira política neoliberal apresentada pelo governo Lula, por meio do ministério de Haddad. Este é o desafio que os setores da oposição enfrentam historicamente na UNE.

Este congresso foi marcado por uma histórica série de fraudes implementadas pela majoritária e, contraditoriamente, por uma grande dificuldade na unificação da oposição de esquerda. Frente às incontáveis criações de DCEs-fantasmas no Brasil todo, os processos eleitorais fraudulentos, que sem qualquer votação estudantil elegeram centenas de delegados/as, os convites para figuras como o ministro do STF Luís Roberto Barroso e o ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino, na expectativa de serem chancelados pelo movimento estudantil, a resposta que a oposição de esquerda da UNE deveria ter dado era sua pronta e certeira unificação. Na avaliação do Ecoar, qualquer hesitação nessa linha política no congresso favoreceu, direta ou indiretamente, o setor majoritário da UNE.

Nesse sentido, avaliamos muito negativamente a decisão da Juventude Sem Medo de não construir a chapa da Oposição de Esquerda unificada. Esta decisão foi responsável por rifar a vaga conquistada recentemente pela Oposição de Esquerda na Secretaria-Geral da UNE. 

Também fazemos um balanço muito negativo do fato deste setor ter assinado a resolução de conjuntura com a majoritária da entidade. Embora exista uma diferença importante entre construir uma chapa em conjunto com a majoritária e a chapa que se efetivou (JSM e Quilombo), isso não abona nem diminui a gravidade de assinar uma resolução de conjuntura com esse setor. Há diferenças muito claras entre os programas que setores da JSM defenderam nas eleições de delegação para o CONUNE por todo o país e a leitura de conjuntura que a majoritária da UNE faz. Assinar a tese conjuntamente cumpre um papel de diluição dessas diferenças, o que não só é despolitizante, mas também naturaliza e legitima esses setores perante suas bases. Faz parte do nosso papel enquanto oposição de esquerda não deixar que práticas antidemocráticas e desmobilizantes sejam normalizadas.

É importante deixar claro que não somos contrárias e contrários à disputa de setores que historicamente construíram a chapa majoritária, como os setores do PT – acreditamos que, inclusive, a disputa desses setores é uma tarefa revolucionária que nos cabe. No entanto, avaliamos que essa disputa só será de fato eficaz para somar forças ao horizonte revolucionário se ocorrer nos marcos de um programa emancipatório de educação e em defesa da independência frente ao Governo Federal. Caso contrário, estaremos rebaixando nosso programa para adequá-lo aos marcos políticos desses setores.

Sabemos que os desafios para construir uma atuação unificada da Oposição de Esquerda na UNE vai para muito além de seus períodos congressuais. Para nós, do coletivo Ecoar, isso quer dizer que precisamos avançar na construção de um campo no interior e fora da UNE que de fato represente um acúmulo coletivo em torno de um projeto de educação emancipatório. Acreditamos que é por meio da construção programática e da atuação conjunta no movimento estudantil que a construção da Oposição de Esquerda se distanciará da artificialidade que esteve presente em sua construção neste congresso e que por nós é reconhecida.

Nesse sentido, reivindicamos que as e os camaradas da UJC e do Correnteza adotem, nas próximas disputas de base do movimento estudantil, posturas e linhas políticas de maior unidade com os demais coletivos da Oposição de Esquerda, diferentemente do que observamos de modo geral no período pré-CONUNE deste ano.

Construímos a chapa da Oposição de Esquerda a partir desta defesa, que pautou nossa intervenção durante o congresso, mas vai para além dele. Apostamos que os coletivos que compõem a JSM, apesar da decisão inconsequente tomada neste congresso, endossam um projeto de educação mais próximo do que o defendido pela nossa chapa do que o defendido pela majoritária da UNE. Saberemos se essa aposta se confirmará a partir das posições e localizações adotadas por este campo no próximo período – será de consequência com a construção da oposição à majoritária ou de ainda maior proximidade com ela, como foi apresentado até agora?

A juventude brasileira tem desafios históricos colocados à sua frente. A derrota do fascismo está no centro deles. Nesse sentido, a derrota do Novo Ensino Médio é tarefa número um. Toda nossa juventude precisa estar a serviço dessa luta – e está evidente que não podemos depender da iniciativa da majoritária da UNE para colocá-la nas ruas. Na mesma toada, é preciso limpar o MEC dos fascistas e quadros da extrema direita herdados do governo Bolsonaro e mantidos pelo governo Lula.

Além disso, se lutamos por uma educação emancipatória, precisamos de um futuro com vida para implementá-la. Para isso, é preciso reverter prontamente o processo de destruição da natureza implementado pelo capitalismo predatório. Essa luta é mundialmente protagonizada pela juventude e no Brasil não é diferente. O movimento estudantil não pode estar apartado disso: é tarefa das e dos estudantes brasileiros estar à frente de lutas como a do enfrentamento ao Marco Temporal e para que as nossas universidades e a ciência estejam a serviço de medidas estratégicas para o fim da exploração da natureza.

Só poderemos de fato incidir para a construção desses horizontes se atuarmos com unidade e responsabilidade frente aos desafios de construção programática conjunta.

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