Sobre as eleições presidenciais de 2022: por uma candidatura da esquerda radical, o coletivo Ecoar está com Glauber Braga (PSOL)!

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Imagem retangular em formato paisagem. 8 militantes com camisetas verdes do coletivo Ecoar posam para a foto, segurando cartazes. Em destaque, está uma faixa verde em que está escrito "Fora BolsoLixo".

Épocas reacionárias como a que estamos vivendo não apenas desintegram e debilitam a classe trabalhadora, isolando-a de sua vanguarda, mas também rebaixam o nível ideológico geral do movimento, fazendo o pensamento político retroceder a etapas já superadas muito tempo. Nestas condições, a tarefa da vanguarda é, acima de tudo, não se deixar arrastar pelo refluxo geral: ela deve nadar contra a corrente. Se a relação de forças desfavorável impede manter as posições políticas conquistadas, ao menos devem se conservar as posições ideológicas, porque nelas se concentra a cara experiência do passado. Os tolos irão considerar esta política como “sectária”. Na verdade, ela é o único meio de se preparar para um novo e gigantesco salto para a frente, com o próximo ascenso histórico por vir. (Leon Trótski, “Stalinismo e bolchevismo”, 1937)

Derrotar o bolsonarismo, interromper a barbárie 

É urgente derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo. Esta é a tarefa prioritária colocada para a juventude e o conjunto dos explorados e oprimidos no Brasil. O governo Bolsonaro é a expressão do que há de mais reacionário no cenário brasileiro dos últimos tempos. Uma combinação nefasta de ultraliberalismo na economia, autoritarismo na política e conservadorismo nos costumes. A pandemia do coronavírus levou ao limite o seu poder destrutivo: mais de 660 mil mortos de acordo com os (subnotificados) números oficiais, aumento do desemprego, da informalidade e da precarização do trabalho, inflação corroendo o nível de vida das famílias da classe trabalhadora, mais de 50% da população brasileira enfrentando algum nível de insegurança alimentar, 20 milhões de brasileiros passando fome e uma dramática lista que se segue…

É verdade que o quadro nacional é profundamente regressivo. No entanto, precisamos reconhecer com clareza que os problemas que enfrentamos não são meramente conjunturais, não estão ligados apenas ao atual governo corrupto e genocida de Bolsonaro. Também não são um simples resultado do golpe institucional de 2016, embora tudo isso tenha agravado muito a situação. As raízes dos nossos problemas estão fincadas no sistema capitalista. Vivemos os efeitos devastadores de uma crise do capitalismo que se arrasta e se agrava com o passar dos anos, diante da qual a resposta das classes dominantes tem sido uma ofensiva brutal sobre os explorados e oprimidos (e sobre a natureza) em todo o planeta.

Precisamos, portanto, de uma alternativa anticapitalista. De um projeto de ruptura com o capitalismo. Este é um ponto-chave, incontornável se quisermos ⎼ de fato ⎼ interromper a barbárie capitalista e avançar na direção de um mundo novo e ecossocialista.

Eleições de 2022: Bolsonaro, a chapa Lula-Alckmin e a esquerda radical

Este é o contexto histórico no qual vão ocorrer as eleições presidenciais de 2022 no Brasil. Hoje, a maioria das pesquisas indica que haverá segundo turno entre Lula e Bolsonaro. Nós, do coletivo Ecoar ⎼ juventude ecossocialista, não temos a menor dúvida de que será preciso, em um tal cenário, trabalhar unificadamente para derrotar Bolsonaro. Evitar sua reeleição é uma tarefa central.

Porém, não acreditamos que a melhor alternativa para a juventude explorada e oprimida seja embarcar na chapa Lula-Alckmin. Nós fazemos parte daqueles e daquelas que viram na trajetória do Partido dos Trabalhadores (PT) um erro estratégico fundamental: a aposta na conciliação de classes. A lição histórica mais profunda do golpe institucional de 2016 foi que, no limite, uma política de conciliação de classes enfraquece os de baixo e fortalece os de cima, preparando o caminho para novas derrotas e retrocessos. Não foi por acaso que ⎼ após 13 anos de um governo supostamente de “esquerda” ⎼ a classe trabalhadora não conseguiu resistir ao golpe e à sua agenda de retrocessos e viu seus direitos serem reduzidos a pó (reforma da previdência, teto de gastos, reforma trabalhista, privatizações, etc.). 

Lula e o PT escolheram Geraldo Alckmin (recém-filiado ao PSB) como vice-presidente. Lembremos que no seu histórico político como governador de São Paulo pelo PSDB, Alckmin foi sistematicamente reacionário e opressor, reprimindo qualquer tipo de manifestação da classe trabalhadora, sobretudo em greves. Independente do partido político ou cargo em que esteja, sempre estará ao lado da burguesia. O que nos permite concluir que esta escolha de Lula e do PT foi um claro aceno para as classes dominantes: “fiquem tranquilos, não tocaremos em seus privilégios”. É o sinal mais evidente de que o PT não reviu seus erros históricos e seguirá apostando na tentativa de conciliar o inconciliável, os interesses dos trabalhadores e trabalhadoras, dos oprimidos e oprimidas, com os interesses da burguesia e do grande capital. Como se, diante da luta de classes, fosse possível não tomar lado…

Desse modo, a chapa Lula-Alckmin (uma “frente amplíssima”, que não tem nada de esquerda) não tem a menor condição de representar um projeto de esquerda, vocalizando as demandas dos explorados e oprimidos. E nem mesmo se pretende a isso…

É por essa razão que somos obrigados a reconhecer a necessidade de uma candidatura da esquerda radical para as eleições presidenciais de 2022. Uma candidatura que expresse os interesses fundamentais dos trabalhadores e trabalhadoras, da natureza e de seu equilíbrio ecológico, dos povos originários, das mulheres, da negritude e da comunidade LGBTQ+. Em resumo: os interesses de todas e todos os explorados e oprimidos no Brasil, que sofrem as consequências deste sistema que produz e reproduz desigualdade, violência e morte.

Uma candidatura da esquerda radical também deve cumprir o importante papel pedagógico de lembrar e evidenciar os limites da democracia burguesa (que aliás jamais existiu plenamente na periferia do capitalismo). Deve apontar claramente que a nossa aposta fundamental é na superação do capitalismo, através da luta, da auto-organização e da mobilização de massas. Nosso horizonte é a emancipação. E, vale reforçar: sem independência de classe, não pode haver emancipação.

Por uma candidatura própria da esquerda radical, vamos com Glauber Braga (PSOL)!

Em nossa visão, quem tem as melhores condições para representar esta perspectiva política em sua totalidade é a pré-candidatura de Glauber Braga (PSOL). O programa preliminar apresentado toca em pontos elementares para qualquer candidatura da esquerda radical, a partir de princípios centrais para uma abordagem de transição ao socialismo. Mas destacamos aqui a enorme importância da presença de três aspectos fundamentais: o ecossocialismo, a democracia dos de baixo e o combate ao punitivismo.

Proteção do meio ambiente, combate ao agronegócio, reforma agrária popular, produção agroecológica, fim do uso de agrotóxicos e transgênicos (através da revogação do “PL do veneno”), reforma urbana, tarifa zero e transição energética a partir de fontes renováveis são apenas alguns dos pontos que delineiam o eixo ecossocialista. A ênfase na organização da sociedade em bases verdadeiramente democráticas e participativas, a partir de um princípio de auto-organização, tem uma importância crucial. Assim como a perspectiva antipunitivista de combate à violência de Estado e à política proibicionista de “guerra às drogas”, articulando desencarceramento e reforma do sistema de justiça criminal.

Nós entendemos que as eleições são um momento tático para ampliar o alcance das nossas principais posições e reivindicações. São uma janela de oportunidade para apresentar nossas ideias e chegar em locais e pessoas que não conhecem o que defendemos. Devemos usá-las a serviço de nosso horizonte estratégico: o fortalecimento do nosso campo de classe e a superação do capitalismo. Neste sentido, entendemos que Glauber Braga pode cumprir de maneira exemplar o papel de porta-voz do projeto político de emancipação que nós defendemos. Em seu combativo mandato na Câmara dos Deputados, tem sido linha de frente no enfrentamento ao bolsonarismo, sem jamais se deixar confundir com ilusões reformistas ou social-democratas. É um reconhecido adversário da agenda neoliberal instaurada no Brasil, sendo um dos articuladores do Comitê de Luta contra as Privatizações. Coloca, no centro de suas discussões, a questão do trabalho, sempre necessária, ainda mais em tempos de ultra-precarização. Mais do que isso, seria certamente o nome mais indicado para unificar em uma frente a esquerda socialista (PSOL, PCB, UP e PSTU) e os movimentos sociais combativos nas próximas eleições, possuindo um bom trânsito e diálogo com os companheiros destes partidos e movimentos. Por enquanto, PCB, UP e PSTU apresentaram os seus respectivos pré-candidatos: Sofia Manzano, Leonardo Péricles e Vera Lúcia.

Glauber precisa ser indicado pelo próprio PSOL para concorrer à presidência da República, o que ainda não foi decidido. Embora seja apoiado por quase metade de seu partido, sabemos que há a possibilidade de que o PSOL, em meio a suas disputas internas, acabe por decidir ficar sem candidatura própria para embarcar na chapa Lula-Alckmin desde o primeiro turno das eleições de 2022. O que será um erro grave e enfraquecerá toda a esquerda socialista brasileira na importante disputa a ser travada neste ano.

Uma candidatura da esquerda radical é o melhor jeito de contribuir para a derrota do bolsonarismo

“Mas a candidatura de Glauber Braga não irá diminuir as chances de derrotar Bolsonaro?” Em nossa visão, antes o contrário.

A existência de uma candidatura da esquerda radical no 1º turno não impede uma unidade contra Bolsonaro no 2º turno. Este é um ponto básico e elementar.

A esquerda radical também não carrega consigo as contradições e o desgaste acumulados pela “esquerda da ordem” (PT e seus aliados) diante de setores expressivos do povo brasileiro. Costumamos caracterizar isso como uma certa “rejeição popular” ao PT, fruto do desencanto e da decepção histórica com um partido que anteriormente representou a possibilidade de transformação radical da nossa sociedade, mas que no fim das contas acabou por se integrar à ordem burguesa. Estando melhor posicionada para criticar o bolsonarismo e seu projeto reacionário, a esquerda radical tem e terá mais legitimidade para dialogar com o povo e apontar os atuais problemas do governo Bolsonaro, assim como os futuros problemas de sua eventual reeleição. Poderá então contribuir de maneira crucial para diminuir o apoio a Bolsonaro e mesmo converter uma parte dos votos nulos em votos anti-Bolsonaro. Em síntese: é e será muito mais fácil criticar o governo Bolsonaro sem ter que defender o PT e seus governos de conciliação de classes…

Considerando que qualquer voto retirado de Bolsonaro favorece a sua derrota, somos nós ⎼ a esquerda radical ⎼ que poderemos representar melhor um projeto “anti-Bolsonaro” e assim contribuir para a derrota do bolsonarismo. No pântano da política institucional burguesa, a esquerda que mantém a sua independência de classe evita ser confundida com o “mais do mesmo” e se permite ser a expressão da indignação e da revolta popular diante de um sistema político cada vez mais apodrecido e de uma realidade cada vez mais miserável e desumana.

Diferente do que muitos podem pensar,  uma candidatura da esquerda radical não favorece a direita e a extrema-direita. Pois ela contribui enormemente para deslocar à esquerda a agenda e o debate público na sociedade. De modo contrário, quem ganha com a sua ausência são justamente os setores conservadores e reacionários. Pois a esquerda moderada, evitando tocar em temas centrais que atingem os interesses dos de cima, acaba por contribuir para um deslocamento à direita do debate público e, consequentemente, para uma despolitização que só tende a favorecer as alternativas de direita e extrema-direita. Deslocando o debate à esquerda, com consistência e indo à raiz dos problemas, dizendo o que deve ser dito, ajudamos a estreitar o espaço do bolsonarismo e a enfraquecer o apoio a Bolsonaro.

Transformar o mundo, nossa disputa estratégica fundamental

Por fim, uma candidatura da esquerda radical é o que melhor nos coloca nos trilhos da nossa disputa estratégica fundamental. É o que mais nos ajuda a fortalecer uma alternativa política de ruptura: anticapitalista, ecossocialista, feminista, antirracista e antilgbtfóbica. É o que expressa melhor a necessidade de fortalecer o nível de consciência, a organização e a mobilização popular. É o que nos permite usar o período eleitoral como um ponto de apoio para pautar a necessidade dos explorados e oprimidos lutarem de maneira independente, de maneira auto-organizada e com perspectiva de tomada do poder. Por isso seguimos nas lutas e nas ruas durante todo este tempo, sem cair no conto da sereia das ilusões eleitoralistas, e assim seguiremos. Lutando pelo Fora Bolsonaro e pelos interesses imediatos e históricos de todos os explorados e oprimidos. Em resumo: pela transformação radical do mundo!

É por todas essas razões que defendemos uma candidatura própria da esquerda radical no 1º turno das eleições de 2022. E acreditamos que Glauber Braga (PSOL) é o melhor nome para representar esta política.

“Quem luta pode perder, mas quem não luta… já perdeu” (Bertolt Brecht)

 

Coletivo Ecoar – Juventude Ecossocialista

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