UM CONVITE DE WALTER BENJAMIN PARA ESCOVARMOS A HISTÓRIA A CONTRAPELO

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Walter Benjamin é, sem dúvidas, um dos marxistas mais únicos que tivemos em nossa história. Muito lembrado – com razão – pelos seus extensos diários, contribuições para a crítica literária, história cultura e para a estética, Benjamin era acima de tudo um marxista herético, profano, um inconformado com a miséria e o sofrimento, um romântico e um judeu. Tudo isso junto e misturado. Em um de seus textos mais potentes, o “Sobre o conceito de história”,  anuncia seus objetivos:

“um momento destruidor: demolidor da história universal, eliminação do elemento épico, nenhuma identificação com o vencedor. A história deve ser escovada a contrapelo. A história da cultura como tal é abandonada: ela deve ser integrada à história da luta de classes”

Sua visão materialista e anti positivista da história é uma grande animadora de nossas lutas. Como Michael Lowy aponta em seu livro “Walter Benjamin: aviso de incêndio” , essa afirmação possui um duplo sentido. Primeiramente, a importância de não seguir a história oficial, a versão majoritária, a dos vencedores. Mas também a necessidade da história ser escovada, ou seja, que não será mudada sem uma força ativa que force uma mudança de rumo. É uma ode contra o imobilismo, o progressismo e o determinismo histórico. É um olhar para a história com H minúsculo, sem uma coisificação ou personalização da mesma. Um chamado para a rebelião e a insurgência.

Mais do que nunca, essas importantes reflexões de um camarada distante, nascido há 132 anos em um 15 de julho em Berlim, são atuais. No nosso contexto brasileiro, é importante que entendamos o capitalismo e o Estado brasileiro não pelas caricaturas oficiais construídas ao longo dos anos pelo imperialismo e militarismo enraizado em nossas instituições, mas pelos vencidos, pelos escravizados, pelos povos originários que resistiram bravamente ao genocídio, pelas revoltas da senzala, das grandes greves gerais, estudantis e da luta armada.

Conhecer de verdade o Brasil pelo o que ele é, decorrente de um capitalismo construído em cima de sangue pisado de indígenas e pessoas africanas escravizadas no latifúndio. Mais recentemente, baseado no genocídio nas períferias, nos massacres no contexto rural, no avanço contra a natureza e na superexploração do trabalho.

Escovar a história a contrapelo é lembrar de Walter Benjamin que preferiu aos 48 anos tirar a própria vida do que ser capturado pelos nazistas em 1940, e também dos mais de centenas de milhares de mortos – em sua maioria pessoas pobres e pretas – que não precisavam ter ido sem a gestão genocida de Jair Bolsonaro na pandemia de COVID-19. 

É celebrar a vida, mas não esquecer do sofrimento dos nossos. É aprender com os vencidos e construir uma história nossa, e que seja a da superação do sistema capitalista, da desaceleração das mudanças climáticas, da revolução, da construção do reino da liberdade.

Gustavo de Oliveira Correa – Coordenação Nacional do Ecoar

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