Viva Mariátegui! Viva Che! Viva o marxismo latino americano!

Neste 14 de junho, na importante tarefa de fazer a história pelos de baixo, lembramos
e celebramos a vida de dois grandes revolucionários que lutaram em solo latino americano.
Há 130 anos nascia em uma região pobre do centro-sul peruano José Carlos Mariátegui e há
96 anos em Rosário de Fé na Argentina nascia Ernesto “Che” Guevara Lynch de la Serna.
Contra todas as descaracterizações stalinistas e difamações liberais a vida deles precisa ser
celebrada pelo que realmente são: representantes de um espírito revolucionário próprio,
insurgente e profundamente conectado com os anseios das classes trabalhadores, do tipo que
apenas grandes processos coletivos podem criar, uma verdadeira criação heróica do
socialismo latino americano.


Além de aproveitar esta data para celebrarmos Che e Mariátegui, acreditamos que seja
essencial falar do conjunto de práticas e contribuições teóricas riquíssimas que ambos
fizeram. O Marxismo latino americano dá seus primeiros passos ainda no início do século
XX, muito inspirados pela revolução de outubro de 1917 na Rússia. As contribuições dos
bolcheviques sintetizadas por Lênin fizeram um alvoroço nas linhas críticas e anti-coloniais
no subcontinente, gerando as mais diversas interpretações.

Na década de 1920 diversos partidos comunistas surgiam pelo continente, Mariátegui
foi um dos principais contribuidores para a criação do Partido Socialista do Peru.
Infelizmente, por condições de saúde, viveu pouco mais de 30 anos, mas teve uma vida
eletrizante (cabe ressaltar que ele é uma figura importante também para lembrarmos que
pessoas com deficiência sempre existiram e foram protagonistas na luta de classes). Seus
escritos iam da poesia à teoria da organização, tendo contribuições ainda hoje insuperáveis
acerca das especificidades latino americanas, do capitalismo que se desenvolveu a partir do
colonialismo e o papel da racialização nesses processos.

O período stalinista e a política de “revolução nacional-democrática” na periferia do
capitalismo imposta pela Comintern gerou décadas de um marxismo profundamente etapista,
marcado pelo reformismo e na aliança com burguesias nacionais. Felizmente, um conjunto de
insurgências no final da década de 1950 culminou na Revolução Cubana em 1959, abrindo
um novo período revolucionário.

Neste contexto, Che é muito lembrado – corretamente – pelo seu importante papel
como dirigente da guerrilha de Sierra Maestra. Mas muito mais do que isso, Che foi um
importante formulador acerca da caracterização e importância das guerrilhas no contexto
latino americano, da inafastabilidade da luta pelo socialismo na superação do imperialismo no
continente, na economia política e na construção de um internacionalismo proletário em
oposição ao imperialismo burocrático soviético e ao imperialismo capitalista estadunidense.

Mas se tem uma característica que une ambos personagens e também a tradição do
marxismo latino americano quente, crítico e revolucionário que defendemos é a defesa do
humanismo no centro das lutas socialistas. Ambos não se conformavam com uma mera
reprodução mecânica dos modelos europeus, muito menos de um socialismo produtivista que
exauria a terra e as pessoas em prol de um suposto objetivo econômico.

Estavam sim preocupados com as pessoas poderem viver em suas terras, que tivessem
ampla participação nas decisões políticas, que pudessem estudar e desenvolver suas plenas
capacidades, que pudessem comer bem, beber, se deleitar com a abundância da vida a partir
da coletividade e da redução da jornada de trabalho.

Para que isso fosse possível era necessário olhar para as comunidades indígenas, para
a agricultura dos camponeses, não se sujeitar aos interesses da burguesia nacional por uma
suposta oposição aos interesses externos. Ter a coragem de fazer a luta de classes com as
características que estavam apresentadas aqui. Como disse Mariátegui, nosso socialismo não
pode ser “decalque nem cópia”, mas sim “deve ser criação heróica, temos que dar vida, com
nossa própria realidade, em nossa própria linguagem, ao socialismo indo-americano”

Ao invés do que tentam construir os detratores do marxismo latino americano, temos
uma história rica, uma teoria diversa e que nos dá as mais variadas ferramentas. Que
possamos fazer novas revoluções cubana e mexicana, que novamente façamos a terra tremer
como nas revoltas na Bolívia e Nicarágua, que não nos resignemos a um socialismo
apequenado.

Portanto, aprendamos com Che e Mariátegui, tenhamos coragem para construir hoje
um socialismo com a nossa cara, mas que seja profundamente revolucionário, que aprenda
com as experiências passadas, com os modos de vida não capitalistas latino americanos, ao
mesmo tempo que tenha ousadia de se lançar nas apostas de um socialismo enquanto criação
heróica dos nossos. Se essas necessidades já eram latentes há 100 anos, apenas tornam-se
mais urgentes em um contexto de emergência climática, completa crise civilizacional e escala
do fascismo na América Latina.

Gustavo de Oliveira Correa – coordenação nacional do Ecoar

1 comentário em “Viva Mariátegui! Viva Che! Viva o marxismo latino americano!”

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